
Doença do carrapato: tudo o que você precisa saber
Imagine que seu cachorro está mais quieto do que o normal, com os olhos tristes, sem apetite e com febre. Em poucas horas, ele pode apresentar sangramentos, apatia extrema e até convulsões. Essa não é apenas uma situação hipotética: é o cenário comum de uma emergência causada pela doença do carrapato, um perigo silencioso e muitas vezes fatal para os peludos.
Neste artigo, você vai entender tudo sobre a doença do carrapato: quais são, como são transmitidas, quais os principais sintomas da doença do carrapato, como funcionam os exames, tratamentos e, o mais importante, como prevenir.
O que é a doença do carrapato?
Apesar do nome no singular, “doença do carrapato” é um conjunto de doenças infecciosas transmitidas por carrapatos, principalmente o Rhipicephalus sanguineus, comum em ambientes urbanos e periurbanos. Em geral, o carrapato precisa se alimentar do sangue do animal por algumas horas para conseguir transmitir o agente infeccioso.
As principais doenças causadas por carrapatos são:
- Erliquiose (Ehrlichia canis)
- Babesiose (Babesia canis ou Babesia gibsoni)
- Anaplasmose (Anaplasma platys)
Cada uma delas possui manifestações específicas, mas muitas vezes estão presentes ao mesmo tempo, dificultando o diagnóstico e agravando o quadro clínico.
Erliquiose canina
A Erliquiose Canina é uma doença infecciosa grave causada por bactérias do gênero Ehrlichia, principalmente a Ehrlichia canis. A bactéria invade os glóbulos brancos do sangue, afetando diretamente o sistema imunológico do animal.
A doença apresenta três fases:
- Fase Aguda (2 a 4 semanas após a picada): o cão pode apresentar febre, apatia, perda de apetite, aumento dos linfonodos, sangramentos pelo nariz e pelos olhos, além de dores nas articulações.
- Fase Subclínica (sem sintomas visíveis): pode durar meses. Mesmo sem sinais, o parasita continua ativo, comprometendo a saúde do animal aos poucos.
- Fase Crônica: nesta etapa, o cão pode desenvolver anemia severa, perda de peso, infecções secundárias e disfunções graves na medula óssea, podendo até levar à morte.
A erliquiose também é conhecida apenas como “doença do carrapato” e tem alta incidência no Brasil, sendo a mais comum. Além disso, animais que já tiveram a doença devem ser monitorados de perto, pois recaídas podem ocorrer. O acompanhamento com o veterinário é fundamental.
Babesiose
A Babesiose é uma doença causada por protozoários do gênero Babesia, principalmente Babesia canis e Babesia gibsoni, transmitidos por carrapatos infectados. Esses microrganismos atacam os glóbulos vermelhos, destruindo as células e provocando anemia grave.
O período de incubação varia de 1 a 3 semanas após a picada do carrapato. Enquanto os sintomas principais incluem:
- Febre alta
- Letargia e fraqueza
- Palidez nas mucosas (gengivas e olhos)
- Icterícia (mucosas e pele amareladas)
- Urina escura (cor de café)
- Perda de apetite
- Aumento do baço
A destruição dos glóbulos vermelhos pode causar colapso circulatório e insuficiência de órgãos, como rins e fígado, caso não haja tratamento rápido. A gravidade da babesiose varia de acordo com a espécie de Babesia, o estado imunológico do cão e se há coinfecção com outras doenças, como erliquiose.
A babesiose é uma doença silenciosa no início, mas pode se tornar fatal rapidamente. Por isso, ao menor sinal de anemia ou fraqueza, leve o animal ao veterinário.
Anaplasmose
Por fim, a Anaplasmose é uma doença bacteriana transmitida por carrapatos, causada principalmente por duas espécies: Anaplasma phagocytophilum (mais comum em países do hemisfério norte) e Anaplasma platys, que é mais frequente no Brasil e ataca as plaquetas — células do sangue responsáveis pela coagulação.
Quando o cão é picado por um carrapato infectado, a bactéria entra na corrente sanguínea e começa a se multiplicar. No caso da A. platys, as plaquetas são destruídas, causando distúrbios de coagulação.
Veja os sinais clínicos mais comuns dessa doença:
- Febre
- Apatia e fraqueza
- Sangramentos pelo nariz ou gengivas
- Petéquias (pequenas manchas vermelhas na pele)
- Dores musculares e articulares
- Perda de apetite
A anaplasmose pode ser confundida com outras doenças, como a erliquiose, pois os sintomas são parecidos. Além disso, as coinfecções são comuns, agravando o quadro clínico.
Apesar de ser menos conhecida, a anaplasmose é uma ameaça real, especialmente porque muitos cães infectados permanecem assintomáticos por semanas. Por isso, o controle rigoroso dos carrapatos é, novamente, a melhor forma de evitar a doença.
Como essas doenças são transmitidas?
A transmissão de todas as doenças ocorre por meio da picada do carrapato contaminado, quando este vai se alimentar do sangue do seu peludo. Em geral, o carrapato sobe no corpinho do pet se instala, pica e suga o sangue por algumas horas. É neste momento que a saliva do parasita entra em contato com a corrente sanguínea do animal e a transmissão das bactérias e protozoários acontecem.
Além disso, é importante entender que o carrapato é um vetor, ou seja, funciona como um transporte dos agentes das doenças. Então se ele pica um animal que já está infectado com doença do carrapato, se alimenta do sangue dele, depois desce do corpo desse pet e sobe em outro durante o passeio na praça, por exemplo, ele estará levando a doença de um animal para o outro.
Por isso o risco é tão alto: um único carrapato pode transmitir mais de uma doença na picada e pode infectar vários animais também.
Segundo estudo da Universidade de São Paulo (USP), até 70% dos cães atendidos em clínicas de emergência veterinária no verão têm histórico de contato com carrapatos.
Como diagnosticar a doença do carrapato em cachorro?
O diagnóstico inclui avaliação clínica, histórico do paciente e exames laboratoriais. Os principais são:
- Hemograma completo: avalia a presença de anemia, plaquetas baixas, alterações nos glóbulos brancos
- Testes rápidos (ELISA): detectam anticorpos contra os agentes infecciosos
- PCR: confirma com alta precisão o DNA do patógeno (da doença).
Na SOS Peludos, usamos combinação de exames e acompanhamento constante, pois um único exame pode não identificar a infecção se estiver em estágio precoce.
Qual o tratamento para carrapato em cachorro com doença?
O tratamento para carrapato em cachorro com doença é complexo, individualizado e inclui:
- Antibióticos (como doxiciclina)
- Antiprotozoários (como imidocarb para babesiose)
- Transfusão sanguínea (em casos graves)
- Suporte com fluidoterapia e transfusão, se necessário
- Controle de dor e febre
- Suplementos hematopoiéticos e vitaminas
O tratamento pode durar de semanas a meses, com necessidade de reavaliações constantes. Em casos graves, o internamento em unidade de suporte intensivo é essencial para salvar a vida do pet.
Como prevenir a doença do carrapato?
A melhor arma é a prevenção. e ela começa com o controle dos carrapatos no ambiente e no próprio pet:
- Uso regular de ectoparasiticidas (coleiras, pipetas, spays e comprimidos)
- Banhos preventivos com produtos veterinários
- Limpeza rigorosa do ambiente com produtos carrapaticidas
- Evitar passeios em locais com infestação conhecida
- Rastreamento rápido após passeios: procure carrapatos especialmente nas orelhas, entre os dedos e no pescoço
Segundo a Sociedade Brasileira de Parasitologia Veterinária (SBPV), o uso mensal de produtos de controle reduz em até 98% o risco de transmissão.
A doença do carrapato em cachorro é grave, complexa e pode levar à morte se não for identificada e tratada a tempo. Por isso, mantenha a proteção do seu pet em dia e fique atento a qualquer sinal diferente.
Na SOS Peludos, contamos com equipe especializada, exames avançados e atendimento 24h para diagnosticar e tratar doenças transmitidas por carrapatos com agilidade e segurança.
Se desconfiar de qualquer sintoma, não espere: traga seu pet para uma avaliação. Uma picada pode parecer inofensiva, mas pode esconder um inimigo silencioso.
Referências:
- Dantas-Torres, F. (2008). Biology and ecology of the brown dog tick, Rhipicephalus sanguineus. Parasites & Vectors.
- Sociedade Brasileira de Parasitologia Veterinária (SBPV)
- Universidade de São Paulo (USP), Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
- American Veterinary Medical Association (AVMA)