Como veterinários, entendemos profundamente as preocupações e o amor que vocês têm por seus amigos de quatro patas. Por isso sabemos como compreender a saúde do seu cão é fundamental para garantir uma vida longa, feliz e saudável para ele. Assim, uma das questões que frequentemente causa preocupação é a intoxicação em cães. Vamos esclarecer alguns pontos importantes sobre este tema?

 

O que é a intoxicação em cães?

 

A intoxicação em cães ocorre quando o animal ingere, inala, absorve ou entra em contato com substâncias tóxicas que podem causar danos ao seu organismo. Essas substâncias podem variar desde produtos domésticos comuns até plantas, alimentos e medicamentos, que são a principal causa de intoxicação no Brasil.

Segundo dados do SINITOX, a maioria dos casos relatados de intoxicação pet no Brasil são de:

• Medicação
• Produtos agrotóxicos caseiros
• Produtos veterinários, como vermífugo ou antipulgas em doses incorretas.

 

Vamos entender mais sobre como intoxicação pode ocorrer:

• Ingestão: Quando um cão ingere algo tóxico, como produtos de limpeza, alimentos prejudiciais, medicamentos humanos ou mesmo plantas tóxicas.
• Inalação: Quando o cão respira substâncias tóxicas, como fumaça de produtos químicos, farejando plantas, vapores de pesticidas ou gases venenosos.
• Absorção: Quando o cão entra em contato com substâncias tóxicas através da pele ou mucosas, como produtos de limpeza, pesticidas ou produtos químicos.
• Contato: Quando o cão entra em contato direto com substâncias irritantes ou corrosivas, causando danos na pele, olhos ou mucosas.

 

Como acontece a intoxicação em cães?

 

Quando o animal tem qualquer tipo de contato com uma substância tóxica, esta pode desencadear uma série de reações que afetam diferentes sistemas do organismo do seu peludo. Porém, o processo da intoxicação pode variar dependendo da substância envolvida e da quantidade ingerida pelo animal. Mas geralmente envolve os seguintes passos:

• Absorção: A substância tóxica é absorvida pelo organismo do cão, seja através do trato gastrointestinal, sistema respiratório, pele ou mucosas.
• Distribuição: Em seguida ela é distribuída pelo corpo do cão através da corrente sanguínea, alcançando diferentes órgãos e tecidos.
• Ação tóxica: Então começamos a perceber seu efeito nocivo no organismo, interferindo no funcionamento normal das células, tecidos e órgãos. Isso pode levar a uma variedade de sintomas e alterações no seu peludo, como vômitos, diarréia, tremores, convulsões, dificuldade respiratória, alterações cardíacas, entre outros.
• Metabolismo e eliminação: Por fim, o organismo do cão tenta metabolizar e eliminar a substância tóxica através do fígado, rins e outros órgãos. Em alguns casos, a substância pode ser transformada em metabólitos menos tóxicos antes de ser eliminada do corpo. No entanto, em situações de intoxicação em cães graves ou com substâncias altamente tóxicas, o processo de metabolização e eliminação pode ser insuficiente. Por isso, acontecem  complicações sérias e potencialmente fatais.

É importante ressaltar que o tempo de manifestação dos sintomas, a gravidade da intoxicação dependem da substância envolvida, da quantidade ingerida e da rapidez com que o tratamento é iniciado. Por isso, em caso de suspeita de intoxicação, é fundamental trazer seu pet rapidamente para a SOS Peludos para avaliação e tratamento adequados.

 

Alimentos tóxicos para cães

 

A melhor forma de evitar a intoxicação em cães, e conhecendo o que pode gerar isso! A alimentação é uma fonte grande de intoxicação, sobretudo em épocas festivas como natal e páscoa, onde alimentos impróprios para os cachorros são servidos e volta e meia eles ganham ou roubam um pedaço do algo que pode causar sérios danos à sua saúde.

Portanto, conforme orientação da dra Vitória Pintaudi, médica veterinária aqui da SOS Peludos, abaixo listamos alguns dos principais alimentos tóxicos para cães e explicamos os motivos pelos quais eles são perigosos:

• Chocolate: O chocolate contém substâncias chamadas metilxantinas, como a teobromina e a cafeína, que são tóxicas para os cães. No organismo causam alteração no sistema nervoso e diurético, podendo gerar vômitos, diarréia, tremores, convulsões e, em casos graves, insuficiência cardíaca e respiratória
• Uvas e Passas: A ingestão de uvas e passas pode levar a insuficiência renal aguda em cães. Embora ainda não se saiba qual é a substância que gera a intoxicação em cães, os sintomas incluem vômitos, diarreia, letargia e diminuição na produção de urina.
• Cebola e Alho: Estes vegetais contêm compostos tóxicos que podem causar danos às células vermelhas do sangue dos cães, levando à anemia. Os sintomas incluem fraqueza, letargia, falta de apetite e urina escura.
• Xilitol: Este adoçante artificial encontrado em alguns produtos, como gomas de mascar, doces sem açúcar e produtos de panificação, é extremamente tóxico para os cães. O consumo de xilitol pode causar hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue), convulsões, falência hepática e até mesmo a morte.
• Cafeína: Assim como o chocolate, a cafeína contém metilxantinas que são tóxicas para os cães. A ingestão de cafeína pode causar sintomas como vômitos, diarreia, tremores, palpitações, convulsões e insuficiência cardíaca.

 

Por que esses alimentos são tóxicos para cães?

 

Os alimentos mencionados são tóxicos para os cães devido à presença de substâncias químicas ou compostos que são seguros para os humanos, mas prejudiciais ou até mesmo letais para os cães. Os sistemas digestivo, metabólico e excretor dos cães são bem diferentes dos humanos. Por isso nossos peludos são mais sensíveis à certas substâncias ou não conseguem digeri-las, ficando ‘paradas’ no organismo gerando ainda mais problemas..

 

E talvez você pense: “Mas meu cão já comeu chocolate e não teve problema”

 

E sim, isso pode acontecer! Isso porque a quantidade ingerida e a sensibilidade individual do cão podem influenciar na gravidade dos sintomas e no tempo de manifestação dos mesmos. Em alguns casos, uma pequena quantidade de alimento tóxico pode ser suficiente para causar sérios danos ao organismo do cão. Enquanto em outros casos, uma quantidade maior pode ser necessária para desencadear os sintomas, pois pequenas quantidades não geram nada perceptível aos olhos do tutor.

 

Plantas tóxicas para cães

 

Muitas plantas também podem causar intoxicação em cães, não só por ingestão, como também por inalar substâncias ao farejar num passeio, por exemplo. veja abaixo 10 plantas tóxicas pro seu cãozinho:

1. Azaleia: Contém toxinas que afetam o sistema cardiovascular e pode levar a vômitos, diarreia e problemas cardíacos em cães.
2. Lírio: Altamente tóxico e pode causar insuficiência renal em cães, se ingerido.
3. Comigo-ninguém-pode: Esta planta causa irritação intensa na boca, esôfago e estômago, levando a sintomas como salivação excessiva, vômitos e dificuldade de engolir.
4. Copo-de-leite: Apesar de linda, é perigosa, podendo provocar irritação na boca, vômitos e diarreia se consumido pelos cães.
5. Dama-da-noite: Famosa pelo aroma, pode causar vômitos, diarreia e alterações cardíacas devido às suas toxinas.
6. Espada-de-são-jorge: Muito comum nos jardins, mas se ingerida, pode causar irritação oral, vômitos e diarreia em cães.
7. Café-de-salão: Contém substâncias que afetam o sistema nervoso central e podem causar sintomas como vômitos, diarréia, tremores e convulsões.
8. Tulipa: Tanto as folhas quanto as flores são tóxicas e podem causar irritação gastrointestinal e problemas cardíacos em cães.
9. Dente-de-leão: Mesmo sendo considerada comestível para humanos, pode causar desconforto gastrointestinal em cães.
10. Bico-de-papagaio: Pode causar irritação oral, vômitos e diarreia se consumida por cães.

 

De modo geral, como nos orienta o dr Ricardo Grilo, nosso médico veterinário clínico geral: “Quanto mais bonitas e chamativas são as plantas e flores, maior o risco de serem tóxicas. Por isso, se não tem certeza, é melhor deixar seu cão longe dessas plantas”. 

 

Medicações tóxicas para cachorro

 

A intoxicação por medicação é um caso bem frequente e ela ocorre por diversas causas. Conforme orienta a dra Vitória Pintaudi, esses acontecem principalmente por:

• Doses equivocadas da medicação indicada em receita
• Automedicação, quando o tutor tenta ajudar o pet medicando em casa, sem orientação veterinária
• Ou por acidentes, quando a medicação fica exposta em local de fácil acesso e o pet consegue pegar, engole sofre as consequências da intoxicação em cães

 

Isso porque, embora exista algumas medicações que possam ser usadas por cães e humanos, é fundamental aplicar a dose correta para a espécie e peso. Além disso, nem toda medicação deve ser oferecida aos animais, veja abaixo uma série de medicações de risco para o seu peludo:

1. Paracetamol: Este analgésico comum em humanos pode causar danos graves ao fígado e aos glóbulos vermelhos dos cães, levando a insuficiência hepática e anemia.
2. Ibuprofeno e outros Anti-inflamatórios Não Esteroides: Estes podem causar úlceras gástricas, insuficiência renal, sangramento gastrointestinal e até mesmo insuficiência cardíaca em cães.
3. Aspirina: Assim como os AINEs, a aspirina pode causar úlceras gástricas, insuficiência renal e alterações no sistema hematológico dos cães.
4. Antidepressivos (ex: Fluoxetina, Sertralina): Podem causar agitação, tremores, convulsões, febre alta e arritmias cardíacas em cães.
5. Benzodiazepínicos (ex: Diazepam, Alprazolam): Estes medicamentos podem causar depressão do sistema nervoso central, ataxia, sedação excessiva e dificuldade respiratória em cães.
6. Medicamentos para Hipertensão (ex: Enalapril, Amlodipina): Podem causar hipotensão, insuficiência renal e alterações no equilíbrio eletrolítico dos cães.
7. Estatinas (ex: Atorvastatina, Simvastatina): Podem causar rabdomiólise, uma condição caracterizada pela destruição do tecido muscular e insuficiência renal em cães.
8. Corticosteróides (ex: Prednisona): Em doses elevadas ou uso prolongado, podem causar imunossupressão, diabetes, úlceras gástricas, insuficiência adrenal e osteoporose em cães.

 

Sintomas de intoxicação em cães

 

Claro que a depender da substância tóxica, do estado geral de saúde do peludo, do seu peso e da quantidade de toxina, os sintomas podem ser diferentes, mais ou menos grevas. mas de modo geral, o tutor precisa estar alerta, suspeitar de intoxicação e socorrer o quanto antes seu peludo em casos de sintomas como:

Gastrointestinais:

• Vômitos
• Diarreia
• Salivação excessiva
• Náuseas
• Dor abdominal

Neurológicos:

• Tremores ou convulsões
• Agitação ou inquietação
• Ataxia (falta de coordenação motora)
• Depressão ou letargia 

Cardiovasculares:

• Taquicardia (aumento da frequência cardíaca)
• Bradicardia (diminuição da frequência cardíaca)
• Arritmias cardíacas
• Hipertensão ou hipotensão

Respiratórios:

• Dificuldade respiratória
• Respiração acelerada ou superficial
• Tosse
• Edema pulmonar

Dermatológicos:

• Coceira intensa ou prurido
• Eritema (vermelhidão)
• Úlceras ou queimaduras na pele
• Inchaço ou edema

Oculares:

• Vermelhidão nos olhos
• Lacrimejamento
• Contração ou dilatação das pupilas

Renais:

• Aumento da produção de urina
• Diminuição da produção de urina (oligúria ou anúria)
• Sangue na urina
• Alterações na cor da urina

Hepáticos (fígado):

• Icterícia (coloração amarelada da pele, mucosas e olhos)
• Aumento do fígado (hepatomegalia)
• Insuficiência hepática

Em casos de suspeitas ou se ver seu pet em contato ou ingerindo algo que possa gerar uma intoxicação em cães, traga para a SOS Peludos em caráter de emergência! O ideal é que a gente consiga atender o paciente em até 2hs após o contato com a toxina para minimizar os riscos e efeitos.

Por isso, não tente medicar em casa, o risco é alto e pode piorar bastante a saúde do pet, tanto pelas medicações em contato com a toxina, como pelo tempo que se perde no tratamento, enquanto as toxinas estão sendo absorvidas pelo organismo, causando danos cada vez maiores, necessidade de internação e , às vezes, casos irreversíveis!

Tendo dúvidas comente e compartilhe esse post com outros tutores de pet, ajude a salvar a vida de mais animais espalhando informação!