Imagine viver em um país onde araras sobrevoam quintais, capivaras passeiam às margens dos rios e pequenos micos saltam de árvore em árvore em áreas urbanas. Essa é a realidade do Brasil, um dos lugares mais ricos em biodiversidade do planeta. Mas, diante de tanta variedade, surge uma dúvida comum: o que são animais silvestres e quais deles podem, de fato, ser criados em casa?

Essa pergunta não é apenas curiosidade. A resposta envolve ciência, legislação, ética e responsabilidade ambiental. Entender os conceitos e diferenças é essencial para qualquer pessoa que ama animais e deseja respeitar a natureza.

 

O que são animais silvestres?

 

Segundo a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), animais silvestres são todas as espécies cuja vida e reprodução acontecem naturalmente em território brasileiro, seja em rios, mares, florestas ou campos. Ou seja, pertencem à nossa fauna nativa e não dependem da intervenção humana para sobreviver.

Eles cumprem funções vitais para o equilíbrio ecológico. Por exemplo, tucanos dispersam sementes que ajudam na regeneração da Mata Atlântica. Tamanduás regulam populações de insetos como cupins e formigas. Já as capivaras influenciam diretamente o equilíbrio das margens dos rios em que vivem.

Portanto, quando falamos em animais silvestres, não estamos tratando apenas de espécies bonitas ou curiosas, mas de seres fundamentais para a manutenção dos ecossistemas brasileiros.

 

Diferença entre animais silvestres, selvagens e exóticos

 

Muitas vezes, as pessoas confundem os termos, mas cada um deles possui um significado específico.

Animais silvestres são aqueles nativos do Brasil, como papagaios, jabutis, araras e tamanduás. Eles nasceram e evoluíram em nosso território, adaptando-se aos biomas brasileiros.

Animais selvagens, por sua vez, são aqueles que vivem em liberdade e mantêm comportamentos instintivos. O termo “selvagem” está ligado ao comportamento, e não à origem. Uma onça-pintada, por exemplo, é ao mesmo tempo silvestre e selvagem quando está em vida livre, mas pode se tornar apenas silvestre quando criada em cativeiro.

Já os animais exóticos são espécies que não fazem parte da fauna brasileira, mas que foram trazidas de outros países. Por exemplo, temos os hamsters, calopsitas e peixes bettas. Ainda que possam ser criados em casa, não pertencem ao grupo de animais silvestres e selvagens do Brasil.

 

Espécies de animais silvestres no Brasil

 

O Brasil possui uma das maiores biodiversidades do planeta. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), estima-se que mais de 120 mil espécies de animais vivam em território nacional, entre vertebrados e invertebrados, como:

• Aves: araras-azuis, periquitos, canários-da-terra, tucanos, sabiás e curió
• Mamíferos: saguis, micos, preguiças, tamanduás, capivaras e onças
• Répteis: jabutis, iguanas, serpentes e jacarés
• Anfíbios: rãs e pererecas
• Peixes de água doce: pirarucu, tucunaré, pacu e dourado

As Aves não apenas encantam pelo canto e pelas cores, mas também participam de processos ecológicos, como a polinização e a dispersão de sementes.

Enquanto entre os mamíferos, os primatas, despertam interesse pela semelhança com os humanos. E outros, como os grandes felinos, chamam atenção pela força e pelo papel de predadores no topo da cadeia alimentar.

Os répteis possuem papel fundamental no controle de pequenos animais e insetos. Já os peixes são importantes para o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos e também para comunidades ribeirinhas.

Cada uma dessas espécies é parte de um quebra-cabeça ecológico. Sem elas, a natureza não se mantém em equilíbrio.

 

Lista de animais silvestres permitidos pelo Ibama

 

Nem todos os animais silvestres podem ser criados em casa. Para proteger a fauna brasileira, o Ibama define uma lista de animais silvestres permitidos em criadouros legalizados.

Entre os mais comuns, estão:

• Papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva)
• Periquito-australiano (considerado exótico, mas muito difundido no Brasil)
• Jabuti-piranga (Chelonoidis carbonaria)
• Jabuti-tinga (Chelonoidis denticulata)
• Iguana-verde (Iguana iguana)
• Sagui-de-tufo-branco (Callithrix jacchus)
• Sagui-de-tufo-preto (Callithrix penicillata)

Esses animais podem ser adquiridos desde que nascidos em cativeiro autorizado e acompanhados de nota fiscal e certificado de origem.

Sem esses documentos, a posse é ilegal e pode sofrer punição com multa e até prisão. Além disso, comprar animais sem procedência contribui diretamente para o tráfico de fauna, um dos crimes ambientais mais lucrativos do mundo.

 

Como adquirir animais silvestres legalmente

 

Para quem deseja criar um animal silvestre, o caminho começa pela pesquisa de criadouros licenciados pelo Ibama. Neles, os animais são reproduzidos em cativeiro de forma regulamentada, garantindo que não foram retirados da natureza.

Após escolher a espécie, o tutor deve exigir nota fiscal e certificado de origem. Esses documentos são a única garantia de que a posse é legal. Também é fundamental considerar os cuidados específicos essenciais de cada espécie. Por exemplo, uma iguana precisa de terrário amplo, iluminação especial e dieta à base de vegetais. Enquanto um papagaio requer enriquecimento ambiental e socialização diária para evitar problemas comportamentais.

Portanto, adquirir um animal silvestre legalmente não é apenas uma questão burocrática, mas também de preparo para oferecer bem-estar real à espécie.

 

Cuidados e restrições na criação de animais silvestres

 

Criar um animal silvestre em casa não é como ter um cão ou um gato. Cada espécie possui exigências únicas relacionadas à alimentação, espaço, comportamento e saúde e envolve desafios importantes:

• Saúde: muitas espécies podem transmitir zoonoses se não houver acompanhamento veterinário.
• Bem-estar: é preciso garantir espaço, alimentação balanceada, ambientes que simulem a natureza e estímulos compatíveis com sua vida natural.
• Legalidade: só é permitido manter animais com documentação oficial são permitidos. Manter um animal sem origem comprovada é crime ambiental.
• Conservação: a compra de animais ilegais estimula o tráfico de fauna, um dos crimes ambientais mais graves do Brasil.

Segundo o Ibama, o tráfico de animais silvestres movimenta cerca de R$ 3 bilhões por ano no país, sendo responsável pela morte de milhares de indivíduos retirados de seus habitats. Por isso, além de cumprir a legislação, a posse responsável também significa contribuir para a preservação da biodiversidade brasileira.

 

Animais silvestres são boas opções de pets?

 

Essa é uma questão delicada. Apesar de algumas espécies serem legalmente permitidas, nem todas se adaptam à vida em cativeiro. Por exemplo, as araras podem viver mais de 60 anos, exigindo dedicação de longo prazo e espaço adequado. Já os jabutis podem ultrapassar 80 anos de vida e demandam cuidados contínuos.

Muitos desses animais mantêm comportamentos instintivos, como agressividade, hábitos noturnos ou necessidade de grandes áreas para se locomover. Por isso, antes de tomar a decisão, é essencial refletir se há condições reais de garantir saúde, bem-estar e qualidade de vida ao animal escolhido.

 

Educação ambiental e responsabilidade

 

Entender o que são animais silvestres vai muito além de classificar espécies. Significa compreender seu papel na natureza, reconhecer a importância da preservação e assumir a responsabilidade de respeitar a legislação.

Quando optamos por não comprar animais de origem ilegal, estamos contribuindo diretamente para enfraquecer o tráfico de fauna. Ao mesmo tempo, quando valorizamos a fauna nativa, ajudamos a proteger o patrimônio natural do Brasil.

Portanto, criar um animal silvestre exige muito mais do que vontade. Exige consciência, informação e, sobretudo, respeito ao ciclo da vida.

Animais silvestres despertam fascínio e curiosidade, mas não devem ser tratados como simples objetos de desejo. Antes de adquirir qualquer espécie, é preciso refletir sobre o impacto ambiental, legal e ético dessa decisão.

Agora que você já sabe o que são animais silvestres, entende as diferenças entre silvestres, selvagens e exóticos, e conhece a lista de animais silvestres permitidos pelo Ibama, compartilhe sua opinião: você acredita que esses animais se adaptam bem como pets? Deixe seu comentário aqui no blog da SOS Peludos e vamos continuar essa conversa juntos.