
Torção Gástrica em Cães: Entenda essa urgência silenciosa
Imagine voltar para casa após um passeio com seu cão e, algumas horas depois, vê-lo inquieto, tentando vomitar sem sucesso, com a barriga cada vez mais inchada. A cena é angustiante. Em muitos casos, a causa é uma das mais perigosas emergências da medicina veterinária: a torção gástrica em cães. Silenciosa, repentina e fatal se não tratada a tempo, essa condição exige ação rápida e conhecimento por parte dos tutores.
Neste artigo, vamos explicar em profundidade o que é torção gástrica em cães, como ela acontece, quais são os sinais de alerta, raças predispostas, os riscos do manejo inadequado, como tratar e, o mais importante, como prevenir. Tudo com embasamento científico, explicações claras e didáticas, no estilo educativo que é a marca da SOS Peludos.
O que é torção gástrica em cães?
A torção gástrica, também chamada de dilatação vólvulo gástrica (DVG), é uma condição na qual o estômago do cão sofre dois eventos graves: primeiro, ele se dilata (incha) com ar, gases e líquidos; em seguida, ele gira sobre si mesmo, obstruindo a entrada e saída do conteúdo gástrico e comprometendo gravemente a circulação sanguínea.
Esse bloqueio impede o retorno venoso ao coração e a irrigação de órgãos vitais, causando choque sistêmico. O quadro pode evoluir rapidamente para necrose do estômago, perfuração e óbito em poucas horas.
A gravidade está na velocidade: em questão de minutos o animal pode entrar em colapso. Segundo a American College of Veterinary Surgeons (ACVS), até 45% dos cães com torção gástrica não sobrevivem, especialmente se o atendimento for tardio. Portanto, entender essa condição e agir com rapidez é fundamental.
Como a torção gástrica acontece?
Para compreender como a torção acontece, é preciso imaginar o estômago como um balão: ele se expande após o cão comer ou beber. No entanto, quando essa expansão ocorre de forma excessiva — seja pela ingestão rápida de alimentos, grandes volumes de água ou exercícios intensos após as refeições — o estômago pode se tornar instável.
Quando o estômago gira em torno do seu próprio eixo, ele fecha as portas de entrada e saída (esôfago e duodeno), aprisionando ar e líquido dentro dele. A distensão se intensifica, gerando dor intensa, dificuldade respiratória, colapso cardiovascular e morte celular por falta de oxigênio.
Além disso, há comprometimento do baço, que pode ser tracionado junto com o estômago e precisar ser removido durante a cirurgia. Esse tipo de torção é mais frequente em cães de grande porte, com peito profundo, pois sua anatomia favorece o deslocamento do estômago.
Raças mais predispostas
Diversos estudos demonstram que a conformação corporal influencia na predisposição à torção gástrica. Cães com tórax profundo e estreito têm maior risco, pois o espaço entre o esterno e a coluna é maior, facilitando a movimentação do estômago.
De acordo com Glickman et al. (2000), publicado no Journal of the American Veterinary Medical Association, cães de raças grandes e gigantes apresentam risco 20 vezes maior de desenvolver o quadro.
As raças mais frequentemente acometidas incluem:
- Dogue Alemão – A raça com maior incidência; estima-se que até 40% desenvolverão DVG durante a vida se não forem operados preventivamente.
- Pastor Alemão – Com tórax profundo e muito ativo, está entre os mais afetados.
- Weimaraner, São Bernardo, Setter Irlandês, Akita e Poodle Gigante – Todas essas raças compartilham a anatomia de risco.
- Boxer e Dobermann – Apesar de musculosos, também possuem predisposição estrutural.
Além da raça, outros fatores aumentam o risco, como idade avançada, histórico familiar, stress, medo, alimentação única por dia e uso de comedouros elevados.
Quais são os principais sintomas de torção gástrica em cães?
Os sintomas de torção gástrica são intensos, rápidos e dramáticos. O tutor atento percebe que “algo está muito errado” em poucos minutos.
Os sinais mais comuns são:
- Tentativas de vômito sem sucesso: o cão faz esforço para vomitar, mas nada sai e é um dos sinais mais típicos.
- Abdômen distendido e tenso: a barriga do cão parece inchada e dura ao toque.
- Salivação excessiva: há aumento súbito da salivação, devido ao desconforto gástrico.
- Inquietação ou letargia: alguns cães ficam muito agitados, andando em círculos; outros deitam e não querem se mover.
- Respiração ofegante e dificuldade para respirar: a pressão no diafragma prejudica a expansão pulmonar.
- Gengivas pálidas: indicam má perfusão sanguínea, um sinal de choque.
- Colapso súbito: sem atendimento, o animal pode desmaiar e não retornar.
Esses sintomas evoluem em questão de minutos. Portanto, nunca espere para ver se melhora. A recomendação é clara: traga imediatamente o cão para atendimento veterinário de urgência.
Cachorro com torção gástrica consegue comer?
Não, um cachorro com torção gástrica não consegue comer. Isso porque a obstrução total do estômago impede a passagem de qualquer alimento. Inclusive, o cão pode até demonstrar interesse, mas a tentativa de comer geralmente piora os sintomas ou causa vômitos secos.
Além disso, o desconforto é tão grande que, na maioria dos casos, o animal recusa água e alimento espontaneamente. Por isso, esse comportamento é um alerta: cães que normalmente se alimentam com apetite e, de repente, não comem e apresentam os sinais descritos acima, devem ser avaliados imediatamente.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é feito com base nos sintomas clínicos e confirmado por exames de imagem e laboratoriais. Os principais são:
- Exame físico: o veterinário verifica a distensão abdominal, a sensibilidade ao toque, a coloração das mucosas e os batimentos cardíacos.
- Radiografia abdominal: mostra o estômago distendido com gás e, no caso de torção, uma imagem característica chamada “sinal do duplo compartimento”.
- Exames laboratoriais: hemograma, eletrólitos e análise de gases ajudam a avaliar o estado geral e o grau de comprometimento sistêmico.
- Ultrassonografia (em alguns casos): utilizada para observar fluxos e confirmar torção, embora a radiografia seja o principal exame.
Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores são as chances de sobrevivência.
Torção gástrica em cães: como tratar?
O tratamento da torção gástrica em cães é sempre cirúrgico. Isso porque não existem remédios ou terapias alternativas eficazes.
O procedimento consiste em:
- Descompressão do estômago: com agulha ou sonda para reduzir a pressão.
- Cirurgia para distorção e avaliação da viabilidade dos órgãos. Se houver necrose, pode ser necessária a remoção parcial do estômago e/ou do baço.
- Gastropexia: técnica que fixa o estômago à parede abdominal para prevenir reincidências.
No pós-operatório, o cão deve permanecer em internação intensiva, recebendo fluidoterapia, antibióticos, analgésicos, antieméticos e monitoramento constante.
Segundo estudo de Brourman et al. (2006), a taxa de sucesso com gastropexia preventiva chega a 90%. Enquanto a taxa de mortalidade em cirurgias emergenciais varia entre 25% e 45%, dependendo da rapidez do atendimento.
Como prevenir a torção gástrica em cães?
A prevenção é sempre o melhor caminho, especialmente se o seu cão pertence a uma raça predisposta. Portanto, veja o que você pode fazer:
- Divida a alimentação em pelo menos duas porções diárias. Evite grandes volumes de ração de uma só vez.
- Não permita brincadeiras ou passeios intensos logo após comer. Aguarde pelo menos 1h30.
- Ofereça água com frequência, mas em quantidades controladas. Evite ingestão exagerada de uma só vez.
- Use comedouros lentos, especialmente para cães ansiosos.
- Evite comedouros elevados, que aumentam o risco em algumas raças.
- Converse com o veterinário sobre gastropexia preventiva, principalmente se o cão for jovem e de raça de risco. Na SOS Peludos, esse procedimento é feito com segurança.
A torção gástrica em cães é uma condição que exige conhecimento e atenção por parte dos tutores. Isso porque saber quais são os sintomas de torção gástrica em cães, agir com rapidez e adotar práticas preventivas pode salvar vidas.
Se o seu cão apresentar qualquer sinal suspeito, ou se pertence a uma raça predisposta, procure orientação com nossos veterinários da SOS Peludos. Estamos preparados 24 horas por dia para atender emergências com equipe cirúrgica e internação completa.
A vida do seu pet pode depender de segundos. Conte com a SOS Peludos.