
Tudo sobre Cacatua
Imagine um animal de estimação capaz de dançar ao som da sua música favorita, aprender comandos e formar um laço afetivo tão forte quanto o de um cachorro. Essa é a cacatua, uma ave fascinante que conquista o coração de muitos tutores com sua inteligência e personalidade exuberante. No entanto, ter uma cacatua em casa exige muito mais do que admiração pela sua beleza. Antes de tomar essa decisão, é fundamental entender tudo sobre a espécie: desde suas características físicas e comportamentais até os cuidados exigidos no manejo diário.
Neste artigo, você vai descobrir em detalhes o que é uma cacatua, quais são os tipos existentes, como ela deve ser criada, quais cuidados com a saúde são essenciais e como garantir uma aquisição legalizada. Tudo isso com base em ciência e orientações atualizadas da medicina veterinária.
Como é uma cacatua?
As cacatuas pertencem à família Cacatuidae e são nativas da Austrália, Indonésia, Filipinas e Papua-Nova Guiné. Caracterizam-se principalmente pela crista móvel no topo da cabeça, que é usada para comunicação. Essa estrutura pode se eriçar quando a ave está animada, assustada ou tentando demonstrar autoridade.
Com plumagem predominantemente branca, rosa, amarela ou cinza (dependendo da espécie), as cacatuas têm bico curvo e forte, patas com dois dedos para frente e dois para trás (zigodáctilas) e olhos expressivos. Sua expectativa de vida é longa? Vivem entre 40 e 70 anos, podendo até ultrapassar esse tempo com bons cuidados.
Tipos de cacatua
Existem mais de 20 espécies de cacatua conhecidas, sendo algumas mais comuns no Brasil por meio da criação legalizada:
- Cacatua Alba (cacatua-branca): inteiramente branca com crista ereta, é uma das mais populares por seu comportamento afetuoso.
- Cacatua galerita (cacatua-de-crista-amarela): possui uma crista amarela vibrante e comportamento extremamente ativo.
- Cacatua moluccensis (cacatua-rosa): famosa pela plumagem rosada e natureza carinhosa, porém muito sensível.
- Cacatua sanguínea: de cor branca com leve coloração rosada ao redor dos olhos e comportamento curioso.
Cada espécie apresenta exigências próprias em relação à alimentação, espaço, nível de interação e estímulo.
Diferença entre cacatua e calopsita
Embora ambas façam parte da ordem dos psitacídeos, as cacatuas e calopsitas são aves bem distintas. A calopsita, que também vem da Austrália, é menor (cerca de 30 cm) e possui hábitos mais tranquilos. Enquanto a cacatua pode atingir até 60 cm e é conhecida por sua personalidade intensa e energética.
Além disso, enquanto as calopsitas costumam vocalizar de maneira mais suave, as cacatuas emitem gritos potentes e exigem maior dedicação em termos de estimulação mental e socialização.
Cacatua canta?
Não exatamente. Embora o termo “cantar” possa ser usado de forma coloquial, as cacatuas não possuem canto melódico como os canários. No entanto, são extremamente vocais: podem imitar sons, palavras e até músicas com surpreendente precisão. Essa habilidade está ligada à sua capacidade cognitiva e ao seu desejo de interação com o ambiente.
Além disso, segundo estudos publicados na revista Current Biology (2013), aves como a cacatua possuem habilidades motoras complexas e são capazes de dançar no ritmo da música — um comportamento raríssimo no reino animal, compartilhado apenas com algumas espécies altamente inteligentes.
Manejo e adaptação da cacatua em casa
Para ter uma cacatua em casa, o primeiro passo é entender que ela não é um animal de gaiola. Apesar de precisar de um espaço seguro para dormir e se alimentar, essa ave precisa de liberdade para se exercitar, interagir e explorar o ambiente. Isso significa que voos supervisionados e tempo de qualidade com o tutor são essenciais.
Além disso, o enriquecimento ambiental é crucial: brinquedos, cordas, galhos naturais e até desafios cognitivos fazem parte da rotina dessa ave. Isso porque a privação de estímulo pode causar estresse, automutilação e distúrbios comportamentais graves, como a destruição de penas.
Socialização e vínculo com o tutor
Diferente de aves mais independentes, a cacatua exige afeto, atenção e companhia. Ela reconhece seus tutores, busca contato físico e pode demonstrar ciúmes ou comportamentos possessivos.
Contudo, isso também exige responsabilidade: ao adotar uma cacatua, você está assumindo um vínculo por décadas. Isso porque a doação ou abandono, além de cruel, pode gerar consequências graves para a ave, que sofre com o rompimento dos laços sociais.
Alimentação ideal
A dieta da cacatua deve ser variada e balanceada. De acordo com a Association of Avian Veterinarians, uma nutrição adequada para psitacídeos deve conter:
- 60 a 70% de ração extrusada específica para a espécie
- 20 a 30% de frutas e vegetais frescos (como maçã, cenoura, abobrinha, mamão, couve)
- No máximo 10% de sementes oleaginosas (como girassol e amendoim), dadas como petiscos
Jamais ofereça alimentos tóxicos, como abacate, chocolate, cebola ou bebidas alcoólicas. A água deve ser fresca, filtrada e trocada diariamente.
Saúde e prevenção de doenças
As cacatuas podem desenvolver doenças respiratórias, bacterianas, virais e fúngicas. Uma das mais comuns é a psitacose, causada pela bactéria Chlamydia psittaci, que pode ser transmitida a humanos. Por isso, é obrigatório o acompanhamento com médico-veterinário especializado em animais silvestres.
Além disso, visitas periódicas, exames de rotina e vacinação (quando indicada) fazem parte do protocolo preventivo. Atenção também à saúde emocional: a solidão e o tédio são grandes vilões para essa espécie.
Como adquirir uma cacatua legalizada
A criação de cacatuas no Brasil só pode ser feita por criadouros comerciais legalizados e registrados no IBAMA. Nunca compre animais silvestres de origem desconhecida, pois isso alimenta o tráfico e prejudica a conservação da fauna.
Portanto, antes da aquisição:
- Verifique o registro do criadouro no site do IBAMA
- Solicite nota fiscal e documento de origem legal (nota CTF)
- Exija atestado de saúde da ave emitido por médico-veterinário habilitado
Além disso, esteja ciente de que o investimento é alto. Uma cacatua legalizada pode custar entre R$ 5 mil e R$ 15 mil, dependendo da espécie, linhagem e idade.
Em resumo, a cacatua é uma ave magnífica, inteligente e altamente social, mas que exige um compromisso profundo de cuidado, afeto e responsabilidade. Sua longevidade, suas necessidades comportamentais e seus custos de manutenção devem ser avaliados com realismo.
Se você busca um animal que se torne um verdadeiro membro da família e está disposto a oferecer tempo, dedicação e amor, a cacatua pode ser a escolha ideal. Mas lembre-se: uma decisão consciente é o maior ato de carinho que podemos oferecer aos animais.
Fontes:
- Patel, A. D. et al. (2009). “Investigating the human-specificity of synchronization to music.” Current Biology, 19(10), 827–830.
- Association of Avian Veterinarians (AAV). Nutritional Guidelines for Companion Birds. Disponível em: https://www.aav.org
- IBAMA. Cadastro Técnico Federal – Criadouros Comerciais. Disponível em: https://www.gov.br/ibama