
Tudo sobre Esporotricose
Imagine que uma pequena ferida na pele do seu gato, aparentemente inofensiva, começa a aumentar, formar caroços, e não cicatriza. Com o passar dos dias, surgem lesões no focinho, nas patas e até dificuldade para respirar. Esse pode ser o início de uma batalha contra a esporotricose — uma infecção fúngica grave, que afeta principalmente gatos, mas pode também se espalhar para humanos.
Neste artigo, você vai entender tudo sobre a esporotricose: o que é, como o gato se contamina, quais são os sintomas, como é feito o diagnóstico, o tratamento da esporotricose em gatos e, principalmente, como se proteger.
O que é Esporotricose?
A esporotricose é uma micose subcutânea causada por fungos do gênero Sporothrix, principalmente o Sporothrix brasiliensis, uma espécie emergente e altamente patogênica, identificada com frequência no Brasil. Esses fungos vivem naturalmente no solo, em espinhos, galhos e matéria orgânica em decomposição. No entanto, o ciclo de transmissão mudou drasticamente nas últimas décadas.
Antes considerada uma doença relacionada ao meio ambiente, a esporotricose se tornou uma zoonose. Ou seja, uma doença transmitida de animais para humanos. E o principal vetor urbano dessa transmissão é o gatinho.
Como os gatos pegam esporotricose?
O contágio em felinos ocorre principalmente pelo contato com o fungo presente no ambiente, ao arranhar troncos de árvores, cavar terra ou entrar em contato com plantas contaminadas. No entanto, o cenário mais preocupante é a transmissão entre gatos.
Isso acontece porque, quando um gato infectado arranha ou morde outro gato — o que é muito comum em brigas de rua — o fungo é inoculado diretamente sob a pele. Além disso, gatos com lesões cutâneas liberam fungos no ambiente por meio de secreções, tornando o contágio ainda mais fácil entre animais que convivem próximos.
Gatos não castrados, que têm acesso à rua e se envolvem em brigas, estão no grupo de risco. Além disso, a superpopulação felina em áreas urbanas, a falta de controle populacional e o abandono agravam esse cenário, especialmente em regiões como o estado do Rio de Janeiro, onde a doença é considerada endêmica.
Esporotricose sintomas: como identificar precocemente
O primeiro sinal da esporotricose geralmente é uma ferida pequena, semelhante a uma picada de inseto, que aumenta e forma nódulos. Esses nódulos podem se abrir e drenar pus, formando úlceras que não cicatrizam.
Com o avanço da doença, outros sintomas aparecem:
- Lesões na face, principalmente no focinho, orelhas e ao redor dos olhos;
- Feridas nas patas e cauda;
- Inchaço dos gânglios linfáticos;
- Espirros, secreção nasal e dificuldade respiratória (em casos mais graves);
- Perda de peso, apatia e febre intermitente.
Por fim, é importante destacar que a esporotricose pode evoluir de forma sistêmica, afetando órgãos internos e colocando a vida do animal em risco.
Diagnóstico: como confirmar se é Esporotricose
O diagnóstico da esporotricose é feito por meio de exames laboratoriais. A cultura fúngica é o método mais eficaz: uma amostra da lesão é coletada e colocada em meio de cultura para identificar o crescimento do Sporothrix.
Em alguns casos, pode ser necessário um exame citológico ou biópsia de pele. A confirmação precisa é fundamental para iniciar o tratamento adequado, já que outras doenças infecciosas e até neoplasias podem causar feridas semelhantes.
Tratamento da esporotricose em gatos: longo, mas eficaz
O tratamento da esporotricose em gatos exige paciência e acompanhamento veterinário rigoroso. A principal medicação usada é um antifúngico oral de uso prolongado.
A duração do tratamento varia de acordo com a resposta do organismo e a gravidade do caso. Em geral, são necessários de 3 a 6 meses de terapia contínua. Além disso, em casos avançados, a associação com iodeto de potássio pode ser recomendada.
É essencial não interromper o tratamento antes da alta médica veterinária, mesmo que as lesões melhorem, pois a doença pode retornar com mais força. Além disso, a higienização do ambiente, a separação de animais infectados e o uso de EPIs (luvas, máscaras) durante o manejo são medidas indispensáveis para evitar novos contágios.
Micose de gato na pele humana: é possível pegar esporotricose do gato?
Sim, a esporotricose é uma zoonose. Portanto, humanos podem se infectar ao entrar em contato com lesões do gato doente, principalmente por meio de arranhões, mordidas ou ao manusear secreções contaminadas.
Nos humanos, a infecção se manifesta geralmente na forma cutânea, com lesões ulceradas, vermelhas, que podem coçar e se espalhar ao longo dos vasos linfáticos. Casos mais graves, como a forma pulmonar ou disseminada, são raros, mas podem acontecer em pessoas imunossuprimidas.
Por isso, ao suspeitar da doença em seu pet, evite o contato direto com as feridas, use luvas ao medicar o animal e procure orientação veterinária o quanto antes.
Como prevenir a esporotricose?
A prevenção da esporotricose começa com uma medida simples, porém essencial: não deixar o gato sair para a rua. Além disso:
- Mantenha seu gato castrado para evitar fugas e brigas;
- Higienize locais onde o animal circula, especialmente se ele estiver doente;
- Evite o contato com gatos desconhecidos ou com feridas suspeitas;
- Use luvas para cuidar de gatos doentes e lave bem as mãos após o contato;
- Em caso de adoção ou resgate de animais de rua, leve ao veterinário para avaliação antes de levá-lo para casa e ter contato com seus outros animais.
Vale lembrar que não existe vacina contra a esporotricose, o que reforça ainda mais a importância da prevenção e do diagnóstico precoce.
Esporotricose: um problema de saúde pública
A esporotricose deixou de ser apenas uma micose rural para se tornar uma questão de saúde urbana. De acordo com um estudo da Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (2022), o Brasil concentra o maior número de casos de esporotricose zoonótica do mundo, com destaque para as regiões Sudeste e Nordeste.
Além do sofrimento animal, a doença sobrecarrega os serviços veterinários e de saúde pública, o que exige políticas de controle populacional felino, campanhas de conscientização e acesso ao diagnóstico e tratamento.
A esporotricose é uma doença grave, mas é possível controlar com informação, prevenção e cuidados veterinários adequados. Ao entender o que é esporotricose, como ela se transmite, os sintomas e o tratamento, o tutor tem as ferramentas certas para agir com responsabilidade e proteger não só o seu pet, mas também sua família e comunidade.
Na dúvida, conte sempre com orientação profissional. A SOS Peludos está disponível 24 horas para atender seu pet com carinho, competência e segurança.
Referências:
- Gremião, I. D. F., et al. “Zoonotic epidemic of sporotrichosis: cat to human transmission.” PLoS Pathogens 13.1 (2017): e1006077.
- Silva, M. B. T., et al. “Epidemiological and clinical aspects of sporotrichosis in patients treated at a referral hospital in Rio de Janeiro.” Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 55 (2022): e0648.
- Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância em saúde. 3ª edição. Brasília: 2019.